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scutar é mais que ouvir – é acolher. Em meio ao ruído externo e interno, ouvir com atenção se torna essencial. Em atendimentos terapêuticos, em relações pessoais ou até num simples momento musical, saber ouvir com presença transforma a experiência. Ouvidos atentos criam espaço para o outro existir e revelam o que ressoa em nós.
Um dia assisti a uma apresentação musical. A cantora era acompanhada por um violonista e um percussionista. Eles haviam sido contratados para alegrar uma festa privada. A voz da cantora era suave, cantava MPB, as melhores. Nascida e criada em um ambiente no qual a música tinha papel principal, fui ensinada desde cedo a respeitar os músicos, a respeitar a música, a nunca meter a mão em um instrumento ou em um microfone sem pedir permissão.
A musicista, com seus olhos claros, cabelo curto cacheado, vestida de pura elegância, percebeu a minha admiração, o meu contemplamento e os aplausos a cada final de música, enquanto a maioria na festa enchia seus pratos de comida, conversava alto, brindava em comemoração. Eu não fazia aquilo para ser notada. De fato, sentia-me deslocada ali, acompanhava alguém. Apenas agi conforme fui ensinada. Mas, mais do que isso, havia algo no timbre da sua voz que acarinhava meus ouvidos e me fazia permanecer atenta.
Ao final de seu compacto show, não titubeei ao me dirigir a eles para elogiá-los. Ela me abraçou, abriu o sorriso e soltou “é tão bom encontrar ouvidos atentos”. Ouvidos atentos… Essa expressão percorre até hoje as linhas do meu hipocampo, fazendo-me lembrar que é bom ser ouvida.
Assim é também nos atendimentos. Quando recebo alguém à minha mesa, reconheço que aquela pessoa carrega uma angústia, busca acolhimento e, acima de tudo, deseja ser ouvida. Muitas vezes, ela está apenas ansiando destravar o que está entalado. Procura um espaço seguro onde possa ser ela mesma.
Do outro lado, recebo a cliente com empatia. Sem pressa. Aqui estamos apenas você e eu. Escuto com atenção. Entendo caso por caso, sem julgamentos. Você quer falar? Eu quero ouvir. E, assim, de ouvidos atentos e acolhimento olho no olho, encontro espaço para trazer o que as cartas também querem falar.
Uma conversa é uma troca. Quando você se fecha ao que o outro diz, acaba preso dentro dos próprios pensamentos, limitando-se ao seu próprio mundo. Quanta oportunidade perdida… Ouvir o outro é abrir uma janela para um novo universo. Esteja com ouvidos atentos à comunicação do outro, ao ambiente, ao silêncio, às reações do seu próprio corpo.
Falar alivia. Ser ouvida cura. A escuta ativa é um gesto simples, mas certamente transformador. A boa comunicação é o primeiro passo para relações mais humanas, trocas verdadeiras e uma vida mais presente.